Energia solar cresce exponencialmente e alcança 10 mil microgeradores no Brasil
O ano da virada. É assim que os especialistas em energia solar descrevem 2017, ano em que o Brasil ultrapassou a marca de dez mil unidades de microgeração. O setor já vinha registrando crescimento exponencial desde 2014, quando apenas 396 sistemas eram homologados pela Aneel. Ano após ano, o aumento sempre superou 300%. Uma das pessoas que aderiram recentemente foi a dona Rosária de Fátima, que mora em Belém, no Pará, e gastou cerca de R$ 25 mil para instalar um sistema com 21 placas de captação e economizar cerca de 60% da conta de luz. ‘Por que não? Vamos fazer uma economia. Enquanto tempo a gente paga por isso? A princípio por sete anos. É muito tempo, mas eu não aguentava mais pagar uma conta de luz horrorosa. Como nós somos aqui do Norte, a gente tem Sol, não só de 11h às 16h, pelo contrário, aqui começa às 9h, para gerar uma boa quantidade de energia.’
O sistema de instalação é simples. Basta colocar uma placa de captação no telhado da sua casa, instalar um equipamento de conversão em energia elétrica e trocar o relógio de luz. Se quiser, pode instalar ainda baterias pra armazenar a energia que você não gastar. Pronto, depois é só procurar a distribuidora da sua cidade para certificar a instalação e começar a gerar. Como o investimento para pessoa física ainda é considerado caro, quase todos os estados do país já oferecem isenção de ICMS como forma de incentivo. Apenas Amazonas, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina ainda não aderiram.
O crescimento desse mercado em meio à crise econômica ganhou impulso com a liberação de linhas de crédito por bancos públicos. Em 2016, o Banco do Nordeste lançou financiamentos para a região e para o norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Neste ano, foi a vez do Banco do Brasil liberar um programa focado na área rural, mas que aceita o próprio equipamento de geração de energia como garantia do pagamento. O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia, diz que o foco agora é facilitar o acesso à tecnologia nas regiões Centro-Oeste e Norte. ‘Estamos trabalhando com os Fundos Constitucionais nas outras regiões, ou seja, Centro-Oeste e Norte, para levar financiamento de qualidade. Para que empresas dessas regiões do país, que têm um enorme potencial, possam também fazer uso de financiamento competitivo e de qualidade para acelerar a energia solar fotovoltaica do Brasil.’
A virada da energia solar deve vir com o início da operação das primeiras usinas de grande porte, que foram contratadas através de leilões públicos em 2013, 2014 e 2015. Isso deve impulsionar o mercado, gerando demanda de produtos voltados para o setor, o que ajuda empresas a lucrar e gerar mais empregos. Mas o presidente da ABSolar, Rodrigo Sauaia, alerta que não há previsão de novas licitações em 2017. ‘É fundamental que a gente tenha essa previsibilidade, essa continuidade da contratação. A gente precisa de demanda constante, de contratação periódica, desses projetos para atendar nossa demanda de energia elétrica, pra contribuir com a redução da emissão dos gases do efeito estufa e para ajudar a economizar a água dos reservatórios das nossas hidrelétricas.’
Um outro gargalo que o setor tem enfrentado é a baixa quantidade de mão de obra especializada. Pensando nisso, o alemão Hans Rauschmayer abriu há três anos a empresa Solarize, que oferece capacitação para engenheiros, eletricistas, empresários e outros profissionais. ‘As universidades levam algum tempo para incluir novas matérias. Ainda não é exigido pelo MEC, então não há necessidade formal de incluir essas matérias. O tema em si é muito novo no Brasil. A demanda do mercado cresce, mas a crise em Brasília não passa despercebida. Ele cresceria mais se houvesse estabilidade.’
Um dos alunos desse curso foi o engenheiro Pedro Costa, que terminou a graduação no Rio de Janeiro em meio ao furacão da crise da Petrobras, em 2014, e sentiu a necessidade de mudar de área. ‘O mercado ficou completamente fechado. Eu trabalhei durante um tempo e depois fui fazer um mestrado porque não conseguia arranjar emprego. Junto com isso, pensei na área solar, que estava se expandindo. Achei que ali teria boas oportunidades para conseguir um emprego e fazer uma carreira de forma mais rápida.’ No ranking dos estados, Minas Gerais é líder em pontos de microgeração de energia solar, com mais de 2.300. Em segundo aparece São Paulo, com cerca de 2.100. Rio Grande do Sul está em terceiro lugar, com quase 1.200. Na lanterna, aparecem Piauí, Acre e Amazonas, que não chegam a dez unidades geradoras cada.